Avaliada em US$ 600 milhões, Coleção Rockefeller vai a leilão e movimenta mercado de arte

Entre os 2 mil itens do acervo estão obras de Picasso, Monet e Matisse

RIO — Um acervo incluindo telas assinadas por mestres do impressionismo, como Monet e Matisse; do cubismo, a exemplo de Picasso e Juan Gris; ou de ícones da arte das Américas no século XX, como Hopper, De Kooning e Diego Rivera, ganharia projeção em qualquer museu do mundo. Este conjunto, no entanto, não pertence a uma instituição, e sim integra a Coleção Peggy e David Rockefeller, que conta com mais de 2 mil itens e será leiloada de amanhã até sexta-feira, na Christie’s de Nova York, após ser exibida desde o ano passado em cidades como Paris, Londres, Pequim e Los Angeles.

“Tigre jouant avec une tortue”, óleo sobre tela de 1862, de Eugene Delacroix Foto: Reprodução

Avaliada em US$ 600 milhões, a Coleção Rockefeller promete bater recordes no mercado de arte internacional, tanto pela importância das obras quanto pela própria linhagem dos colecionadores. Um dos maiores mecenas e filantropos americanos, David Rockefeller, que morreu aos 101 anos em abril do ano passado, estipulou em testamento a doação de parte do acervo ao MoMA de Nova York (instituição do qual era patrono) e o leilão de obras de arte, móveis e objetos decorativos, com renda voltada a instituições de caridade. Não por acaso, o evento é chamado de “o leilão do século”, com a expectativa que ultrapasse a marca dos US$ 700 milhões, puxado por telas como “Fillette à la corbeille fleurie”, de Picasso, com lance inicial de US$ 90 milhões; “Odalisque couchée aux magnolias”, de Matisse (US$ 70 milhões); e “Extérieur de la gare Saint-Lazare, effet de soleil”, de Monet (US$ 40 milhões).

“La table de musicien”, tela em técnica mista de 1914, de Juan Gris – Foto: Reprodução

Presidente Bolsa de Arte do Rio, Jones Bergamin visitou a concorridíssima exposição do acervo para convidados na sede novaiorquina da Christie’s e diz que o leilão está mobilizando toda a cidade.

— A exposição estava abarrotada, passei três horas lá dentro, a coleção é incrível. A Christie’s está triplicando o número de funcionários para atender a demanda. Acredito que vá superar em muito os lances iniciais das obras, talvez as vendas possam realmente chegar a US$ 1 bilhão ou a uma valor próximo — aposta Bergamin. — É uma rara oportunidade de adquirir obras tão importantes oferecidas de uma só vez. É possível que as principais vendas, acima de US$ 100 milhões, fiquem entre os EUA e bilionários do Oriente Médio.

Detalhe de “Fillette a la corbeille fleurie”, pintada por Picasso em 1905 tem lance inicial de US$ 90 milhões – Reprodução

A coleção de arte será leiloada em três dias, em lotes divididos em segmentos específicos, como Arte dos Séculos XIX e XX (hoje), Arte das Américas (amanhã) e Belas Artes (quinta). Adquirido ao longo de décadas por David Rockefeller — ex-presidente do banco Chase Manhattan e neto do lendário magnata do petróleo John D. Rockefeller — e por sua mulher, Peggy (1915 – 1996), o acervo tem seu valor acrescido por sua procedência: além da notória afeição por obras de arte, David era filho de Abby Rockefeller, uma das fundadoras do MoMA, em 1929.

“Richs house”, de Edward Hopper, aquarela de 1930 – Foto: Reprodução

— Qualquer um gostaria de ter em casa ou em sua coleção uma obra que pertenceu aum Rockefeller, a linhagem agrega muito ao valor original da obra — observa Luiz Sève, dono da Galeria de Arte Ipanema e um dos maiores nomes do mercado secundário no Brasil. — Além da relação que a família tinha com o MoMA e outras instituições, o próprio olhar de um colecionador como ele ajuda a valorizar uma obra de arte.

Membro de uma das mais tradicionais famílias de leiloeiros do Rio, Horácio Ernani acredita que a coleção alcançará valores recordes e vai impactar todo o mercado internacional, inclusive no Brasil.

“La rade de grandcamp”, de Georges Seurat, óelo sobre tela de 1885 – Foto: Reprodução

— Em um momento de crise financeira em todo o mundo, um leilão como este é importantíssimo para mostrar que os grandes colecionadores existem e que continuam comprando — ressalta Ernani. — Rockefeller representava este tipo de colecionador cada vez mais raro, hoje a maioria não gosta de aparecer. É comum que enviem representantes ou façam os lances por telefone ou pela internet. No Brasil, muita gente não quer demonstrar que pode dar pagar por obras de arte, em meio à crise. Mesmo que nenhuma obra venha para cá, o leilão pode dar novo fôlego ao nosso mercado.

Sem título 19, de Willem de Kooning, óleo sobre tela de 1982 – Foto: Reprodução

Fonte https://oglobo.globo.com/cultura/artes-visuais/avaliada-em-us-600-milhoes-colecao-rockefeller-vai-leilao-movimenta-mercado-de-arte-1-22661323

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